Tenho sede, mas não vou à água. Mais que sede é um embrulho em todo corpo, de algo que te aperta de dentro pra fora. Uma constipação de fezes imateriais, merda-matéria de escárnio e palavras não ditas ou atiradas violentamente contra tua existência, e permanecem em ti, como facas e foices internas e também as fezes. Fedes, porco inútil e incompetente – que nem a cagares, prestas! Cagar no sentido da evacuação e da limpeza de tornar vazio para tornar-se a encher, como é ciclo e vida. Mas tu, carne, cerco, clausura de tripas e fezes de multidimensões. Fales. Jorres. Tire a roupa e enche os pulmões de um ar sagrado, e com a respiração presa, plane solto no ar, e de lá solte tudo de dentro por de todos os buracos. E que te vazem vísceras por mil cús! Que líquidas e viscosas sejam as merdas e maravilhas que em ti estiverem, Judas, trapo forjado para que crianças chutem e amaldiçoem hipocritamente as traições. Ah, que quero a água. E passo a língua na minha boca, que seca e escapelada, forma mini dentes nascidos dos lábios, de farpas rígidas e secas, cortantes, e busco-as com meus dentes de dentro a arrancar-lhes dali, a tornar lisa a superfície por onde correr a língua lá, minha língua.