O que me mata é perceber que o mesmo que urge em demandas de letras a coagir-me a vir aqui falar a surdos anônimos – conhecidamente anônimos. Este urgir, outras vezes, suprime-se e diz bastar-se. Torna inútil o mesmo afã que movera dedos entre brumas de teclado a pedir-me textos e trechos de nexos duvidosos, mas sempre do sexo de uma inspiração, de um prazer febril que acaba fazendo valer o açoite da musa invisível. Então me acostumo com os beijos quentes de sussurros legorrágicos na minha orelha interna. O grito de palavras eternas que eu vou lançar na babel de letras, a babel de letras de nomes de coisas, e por isso nome de tudo. Se há verdade, ela é das letras e feita de letras. Nos dias de inspiração extremada, é quase certo que em qualquer instante, que ainda não sei qual, mas adivinho sua urgência, saberei a fila-dança da verdade. Saberei em que tom e em que sons, dançam túrgidas palavras dizendo-me a exatidão que representam. Talvez o que digam, eu não saiba ler. E hoje, muito menos. Que me entreguei aos cafés e aos fumos e as cervejas baratas, clamando-a em penitência de uma abstinência desconhecida e tacanha, que não deixa nada haver, a não ser a evidência concreta da ausência. E é ausência de musa, ausência de inspiração. Qualquer inspiração, qualquer coisa, qualquer verdade, ó musas adjacentes de inspirações ainda mais anônimas, badalem suas penas de tetas lustrosas, cuspam brilhantes forjados em saliva escorrida, da água da boca que dá em tudo que beijam, deusas amorfas de eu saber ouvir, ouçam-me também!