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Inocência, a puta

 
Tags:  25/06/2008  
 
Vestida de nua,
toda crua, toda tão crua,
caiu por desamparo
ao lado de uma cama de fina trama
e derramou-se em recorte raro.

Ai dama dada, soldada de guerra,
femea de lassa batalha,
de carne usada que se amortalha
na sua forma mais recondida...
e assim morre devagar, devagarinho.

Salpicada de espirros e escarros
amada por paredes e carros,
definha sem dentes,
almas da alma arrancada a murro...
é amor, é sempre amor.

E, como de costume, morre,
morre devagar, muito devagarinho,
morre sem nunca parar.

Fica uma lágrima nua agarrada à lua.

Valdevinoxis


A boa convivência não é uma questão de tolerância.


 
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Valdevinoxis
 
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Enviado por Tópico
Paulo-Galvão
Publicado: 15/01/2012 22:53  Atualizado: 15/01/2012 22:53
Usuário desde: 12/12/2011
Localidade: Lagos
Mensagens: 1440
 Re: Inocência, a puta
Essa inocência não tem vida, já está morta antes do ultimo suspiro.

Enviado por Tópico
varenka
Publicado: 15/01/2012 22:59  Atualizado: 15/01/2012 22:59
Colaborador
Usuário desde: 10/12/2009
Localidade:
Mensagens: 4210
 Re: Inocência, a puta
Tá bem...Usar faz bem....Bjs

Enviado por Tópico
(re)velata
Publicado: 15/01/2012 23:04  Atualizado: 15/01/2012 23:04
Membro de honra
Usuário desde: 23/02/2009
Localidade: Lagos
Mensagens: 2214
 Re: Inocência, a puta
Muito interessante este poema, pela ambiguidade que o permeia. Fala-se da inocência em abstracto, ou da vida infeliz das mulheres da rua em concreto? Seja como for, o resultado é o mesmo - ambas se perdem - e o poema acaba em grande. Parabéns!

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 15/01/2012 23:18  Atualizado: 15/01/2012 23:18
 Re: Inocência, a puta
Esse poema desnuda verdades, mexe em "falsas feridas", e sobretudo, é um soco na cara da hipocrisia. Pura interpretação minha, mas não resistí a arriscar um comentário minimamente à altura, desse que é um raro exemplar de qualidade literária. A ironia é de tal qualidade que se reflete na sonoridade do poema todo. Inevitável relembrar a "Geni" de Chico Buarque:

"De tudo que é nego torto
Do mangue e do cais do porto
Ela já foi namorada
O seu corpo é dos errantes
Dos cegos, dos retirantes
É de quem não tem mais nada
Dá-se assim desde menina
Na garagem, na cantina
Atrás do tanque, no mato
É a rainha dos detentos
Das loucas, dos lazarentos
Dos moleques do internato
E também vai amiúde
Com os velhinhos sem saúde
E as viúvas sem porvir
Ela é um poço de bondade
E é por isso que a cidade
Vive sempre a repetir
Joga pedra na Geni
Joga pedra na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni"

Perdoe-me a citação. Mas tudo isso pra dizer que se a inocência, a puta tivesse outro nome seria a Geni do Chico, e a Geni do Chico é esse poema, "Inocência, a puta". Essa hipocrisia é a figura feminina da inocência, que nas mulheres se revela na histérica (histriônica e boazinha).
Gostei imensamente.

Abraço, Valdevinoxis.

Sandra.

Enviado por Tópico
Antónia Ruivo
Publicado: 15/01/2012 23:41  Atualizado: 15/01/2012 23:41
Membro de honra
Usuário desde: 08/12/2008
Localidade: Vila Viçosa
Mensagens: 3855
 Re: Inocência, a puta
Excelente este poema.

Enviado por Tópico
thiagodebarros
Publicado: 16/01/2012 01:46  Atualizado: 16/01/2012 01:46
Membro de honra
Usuário desde: 11/01/2012
Localidade: Brasília
Mensagens: 709
 Re: Inocência, a puta
Poesia sonora e comunicativa, aprecio.

Saudações,

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 16/01/2012 15:21  Atualizado: 16/01/2012 15:21
 Re: Inocência, a puta
Muitos dizem sobre tal temática, já que é assunto bastante comum em poesia e noutros gêneros.
Mas poucos conseguem acrescentar ou oferecer de pensar em ótima poesia!!
Gostei muito Val.
Abraço,
Edilson