"Estou expectante. Aguardo sentado para ver o que vai acontecer. Não há nada que queira fazer para tentar condicionar o que se avizinha mas estou preparado e já tenho decisões pré-estabelecidas. Uma espécie de formulários em que só falta a minha assinatura.".
- Disse-o a uma pessoa amiga, no tempo em que comecei a deixar de acreditar nas pessoas. – Murmurava, o jovem, para cima do lápis.
Em conversa com uma folha de papel, o Leonel soltou o que lhe ía na alma e despiu-se. Ficou nú. Até o fazia com uma vontade natural mas, desta vez, fê-lo por necessidade, porque precisava de dizer o que não queria que outros ouvissem.
As pessoas são todas humanas e, por isso, desiludem-se umas às outras de forma crónica. É caracteristica inerente ao ser humano. O Leonel sempre foi um crente, em si e nos outros e como qualquer um, tinha a consciência de quando fazia asneira, de quando deixava os outros em posição difícil. Desta vez adivinhava o contrário, alguém que não ele, ía fazer asneira.
- Sabes que eu já estive na mesma situação? - dizia-lhe em confidência uma amiga querida - Sabes que eu também já me desiludi com as pessoas?
- Sei amiga, confirmas aquilo que já sabia mas em que não quero acreditar. Tudo tem evolução. Pode ser que seja isso. Sinto tristeza mas, também, o que é que se pode fazer? É assim, foi assim e será assim.
Lá no seu imo, o rapaz, sabia que pouco havia a fazer, que no máximo podia ser teimoso mas, também sabia que se o fosse, ía acabar por se desiludir mais ainda.
A amiga compreendia-o. Nem por isso se sentia confortado, era qualquer coisa que não sabia explicar, uma frustração que lhe fazia doer tudo... da vontade ao orgulho.
A espera por algo que lhe contrariava o bom senso e que, por antecipação, já era um dado adquirido, danava-o de impotência.
A bonomia de Leonel dava-lhe sempre um sorriso sincero, era o que lhe valia, pois não o tinha só na cara. Era a sua força, era aquilo que lhe compensava os desagrados e que não deixava que outros se apercebessem da sua, dizia ele, cada vez maior falta de crença.
As coisas aconteceram mas o rapaz continuou a acreditar nos outros. Não foi difícil, depressa se esqueceu das merdas. Não havia jeito, era assim mesmo. Ía voltar a acontecer tudo num outro momento da vida. Não havia mesmo jeito, o Leonel não fora talhado para não acreditar.
Valdevinoxis
A boa convivência não é uma questão de tolerância.