Poemas : 

O QUE ORA ESCREVO

 
 
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Gê Muniz

O QUE ORA ESCREVO

O que ora escrevo
Submete meu próprio vício:

Enlevo de filamento fino
De não precisar pensar
De não buscar auspícios
No precipício que me escapa
Da interior ordem solapada de mim

O que ora escrevo
Serve p’ra me desabotoar:

Ao ignorar o que pensam outros
Dos meus outros pensamentos
Ou sobre o que pensam eles
Nos pensamentos outros
Deles mesmos...

Num arremedo de espasmo
Num jorro pilecado de sangue
O que ora escrevo
Fala pela dor da carne
Ao invés do lamento
E gera no ar uma poesia
De dureza madrasta

O que ora escrevo
De completo, me solapa:

Na aleivosia de dizer
O que jamais eu poderia
Ao tempo mesmo d’eu nutrir
Esse mesmo pensamento!

- Gê Muniz -
 
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GeMuniz
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Enviado por Tópico
Transversal
Publicado: 13/01/2012 20:52  Atualizado: 13/01/2012 20:52
Membro de honra
Usuário desde: 02/01/2011
Localidade: Lisboa (a bombordo do Rio Tejo)
Mensagens: 3755
 Re: O QUE ORA ESCREVO
"o que ora escrevo
num arremedo de espasmo
ao invés do lamento, de não buscar auspícios", e neste "precipício que me escapa", sai esta construção:
"Na aleivosia de dizer
o que jamais poderia
ao tempo mesmo de eu nutrir
esse mesmo pensamento". Excelente. Parabéns. Obrigado.

Abraço-te