A CULPA
Ela tinha pesadelos desde os doze anos, sempre eram relativos à uma estrada.
Não entendia, o porquê. Afinal, nunca tinha viajado para longe de seu estado, apenas de um município para outro.
Sentia―se mal quando isso acontecia, e passava o resto do dia deprimida...
Certa vez, viu mais além da estrada contínua:
Percebeu um carro cheio de jovens, um pouco mais velhos do que ela.
Mas já agora, estava com 14 anos, então por dois anos, tinha nos pesadelos sempre a mesma imagem...
As imagens desse sonho que a atormentava forma ganhando mais detalhes:
Ela viu que estava entre os jovens do carro. Sabia que era, mas com uma face diferente, os cabelos mais escuros, as roupas de uma outra época, talvez fosse dos anos 80.
Pelo que ela já havia visto em filmes da época, deduziu isso.
Tempos mais tarde, meses talvez, viu mais imagens desconcertantes desta vez...
Ela notou que estava em uma casa bem grande, de gente abastarda, e ao olhar em redor, viu um corpo estendido no chão com sangue nas vestes. Vira também um jovem.
Ao tocar no corpo, ela se sujou de sangue. Subiu correndo as escadas dizendo ao rapaz que na sala ficara, que iria tomar um banho rápido e trocar as roupas.
Ele aguardou gritando―lhe que não demorasse pois os outros estavam do lado de fora esperando por eles.
Ela entrou no banheiro e se olhou no espelho... aquele sangue a incomodava!
Era como se um branco tivesse lhe corroído a mente, nada lembrava do que acontecera...
Olhou―se mais uma vez antes de tomar o banho, e sentiu―se triste, deprimida, algo não estava bem.
Depois da ducha, foi ao seu quarto para vestir―se e escutou os gritos da turma lá embaixo, chamando por ela.
Ela chegou da janela e acenou dizendo para que esperassem mais um pouco, já ia se aprontar.
Dentro de si, ela não queria ir com eles, mas o que fazer agora? De nada lembrava mesmo... Apressada se arrumou, desceu as escadas, olhou mais uma vez para aquele homem estendido no tapete, pegou as mãos do jovem que a esperava, e saiu...
Na estrada, o carro estava em alta velocidade, como se eles fugissem de alguma coisa, percebia―se que algo estava sério, alguns discutiam dentro do carro, ela nada entendia, tapava os ouvidos, não queria estar ali...
Foi quando um carro com farol alto sinalizou para que eles parassem, eram 2:30h da madrugada.
Acharam que poderia ser a polícia, mas não dava para identificar a estrada não tinha iluminação alguma...
Um homem desceu do carro e disse para que todos saíssem. Apenas ela e o jovem que antes estava com ela na casa, saíram. Os outros, temerosos ficaram dentro e se recusavam à sair. O homem disse que dispararia a arma se todos não estivessem do lado de fora do carro. Mesmo assim eles não saíram.
Ele não pestanejou e disparou contra ela e o jovem para ameaçar aos outros.
Em seu último suspiro, a moça apenas pensou:
“Será que tenho alguma culpa?”
O rapaz cambaleou e foi ao chão. Ela caiu logo em seguida.
A jovem mocinha, terminava então aquele pesadelo, que durara dois anos para ser completado. Sabia agora que era essa a causa de todo o seu tormento...
A culpa de outra vida talvez.
Foi interrompida quando a enfermeira entrou no quarto e perguntando como ela havia passado a noite... Ela se limitou a olhar em volta e reconhecer onde estava:
Era a mesma casa! Correu ao espelho e pode ver a mesma moça dos pesadelos, com cabelos escuros, no lugar dos seus, longos e loiros... O rosto, era tão diferente daquele que via todos os dias, quando acordava...
A enfermeira balançou a cabeça, fechou a porta atrás de si, pensando:
“ Coitada desse menina, não entende nadinha da realidade, muito menos, da sua dupla personalidade “...
Fátima Abreu
ESSA CRÔNICA, DEU ORIGEM A UM OUTRO TEXTO MEU Q ESTÁ AQUI NO SITE...
QUEM ME LÊ SEMPRE, VAI NOTAR A SEMELHANÇA ENTRE OS 2 TEXTOS...