Como fosse ato de natureza maior, ele fincava as garras em minhas mãos ávidas e sussurrava juras ao meu ouvido, como sempre fizera. Nas primeiras, segundas e até mesmo terceiras vezes fora arrebatador e exótico viver àquilo, sentir tantas coisas num corpo só, em uma só vida. Olhava-me nos olhos, beijava-me a boca e sorria-me com lábios sinceros e repuxados. Costumava desde sempre, valsar comigo espalhando cores pelas ruas vazias e escuras de noites acolhedoras. Levava-me rosas, sempre que podia, e vez ou outra fazia com que algumas pétalas encontrassem com minha pele, “branca feito neve, macia feito pluma”. Não havia dengo ou meio-termo, ele somente olhava-me nos olhos e falava usando uma voz suave e um tanto sedutora. Era um timbre meio vaidoso, talvez moldado… Mas era o que mais gostava de ouvir em sussurros abafados e estridentes à meia-luz das noites frias. Sabias feito ninguém qual o território certo a desbravar quando o escuro surgia. Sabias como tocar, onde beijar, com quem gostaria de estar, e estava. Mistérios aos montes, empilhados em alicerce duvidoso e falsário. Pobre de quem ousasse tentar desvendá-lo, o equívoco era de certo. Beijava-me e beija-me. Gostava e apenas permito. Caligrafia rebuscada jorrava escritos pelo meu corpo e me encantava, me desejava, me tinha. Mas esqueceu-se de renovar, caiu no precipício rotineiro e sem mais. Certo era que recorrer aos sortilégios, não surtia mais efeito algum.