Quem foi que turvou a água
Que fluía cristalina?
Quem derramou o azeite
Que ungia minha sina?
Quem foi que quebrou o cântaro
Do meu vinho predileto?
Quem, por puro egoísmo,
Fez do humano, objeto?
Quem urinou na parede
E pixou o muro novo?
Quem foi que rasgou a rede?
Quem foi que quebrou o ovo?
Quem, em sã consciência,
Feriria uma criança
E com tara doentia
Alimentaria a lembrança?
Quem queimaria a colheita
Dos únicos frutos da aldeia?
Quem seria o traidor
Da última e sagrada ceia?
Diga quem foi o covarde
Que ao infante fez careta:
Foi a morte; foi o demo;
Foi o boi-da-cara-preta.
Frederico Salvo