Tropeçar não mereço!
Encontrei um cálice e dele bebi
O néctar que tenho procurado
Num beco caí e dele me ergui
Estava de novo embriagado
Jurei que mais não semeio
Bastam-me os frutos que possuo
Para quê viver com receio
Para enfrentar outro recuo?
Grandes são as tentações
E mais não sou quem julguei ser
O mundo é lindo, há outras opções
Não tarda nada vou renascer
Os contornos que rabisco
Aportam-me tranquilidade
Faço e desfaço, não preciso de isco
É mais fácil manter a verdade
Penso que está quase na hora
De cumprir com o anunciado
É para a minha montanha que regresso
Onde fui sempre abençoado
Espera-me tempo para as palavras
Todas as sílabas poderei desenhar
Letra a letra, pétalas lavradas
Em frescas flores que irei plantar
Cinzelarei nas pedras das calçadas
Que no meu mundo construirei
Outros cantos, outras moradas
Que para sempre fruirei
Não levo mágoas, carrego esperança
De quem ao mundo tudo deu
Não levo rancores, levo a herança
De todo o bem que recebeu
O meu santuário ficará suspenso
Nas escarpas mais rochosas
E será banhado com o incenso
Das plantas mais viçosas
Viverei lá bem no alto
Próximo de sentir o tudo
Aí distribuirei o basalto
Nas avenidas que não mudo
Roque Soares, 25/11/2011