Poemas : 

crónicas dos novos dias

 
dia primeiro


são cinco e trinta e oito da madruga-quase-dia do primeiro dia. e de repente a cama adquire uma qualidade de quase transcendência. deito-me. uau, que bom!

acho que ainda não lavei os dentes! foda-se, lá se vai a transcendência.
um palavrão. que por acaso até é pequeno. foda-se. seis letras e um tracinho. hipipapaquigrafo é maior. e o nome do senhor que trata do nariz e da laringe e do ouvido é ainda maior.
do senhor ou da senhora.
não quero começar o ano sendo acusado de machismo ou, pior ainda, de misoginia.
para que conste: eu sou absolutamente a favor das mulheres. em todas as posições.

dentes lavados. merda de dentes que nunca ficam branquinhos. o tabaco.

cama. caminha!

são cinco e quarenta e seis.
e à minha volta as luzes e o fumo e a música e os corpos ainda dançam. e o champanhe. mais champanhe. e minis. e saias minis. por acaso havia poucas. merda, quem foi o burro que se lembrou de pôr house?
celebrar um ano que finda ou um que começa?
as duas coisas, vá. começa-se às dezanove ou vinte do último dia e espera-se pela hora zero e grita-se eeeeeeeeeeeeei e dão-se beijos e tal.
e não se lembram as coisas boas do anterior. e as más. o que se fez. o que não se fez. o que não se devia fazer e o que se devia.

e enquanto o sono não nos engole começamos a pensar nas coisas que temos de fazer e que não vamos fazer.

amanhã vou deixar de fumar. é sempre uma das medidas a serem tomadas. é isso, vou deixar de fumar. mas o que vou fazer ao tabaco que ainda tenho? não o posso deitar ao lixo, isso seria desperdiçar dinheiro. pronto, quando este acabar deixo de fumar. mesmo. e, assim, pode ser que os dentes fiquem branquinhos. está decidido.

concretizar sonhos. é o que deve ser. o resto fica para o ano que vem.

e as luzes já enfraqueceram. não há mais ninguém a dançar, só a minha cabeça. devagarinho.

e.

o resto do dia na companhia da família. as coisas do costume. algumas dores de cabeça. alguma falta de vontade para estar a horas à mesa. segunda parte da celebração. grande almoçarada. depois a molenga da tarde. conversas e outras coisas que tal. vou ao piano martelar os últimos acordes da tarde.

ligo o carro e venho-me embora. e logo ali começa o vazio. que aumenta à medida que como a distância que me separa da minha casa. vazia. e quando, finalmente, me sento nesta cadeira, o buraco enorme que se fez faz-me ver, mais uma vez, que afinal a celebração é a família.

mais visitas à família.
é uma das medidas para o novo ano.


 
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freitas.antero
 
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Enviado por Tópico
Sterea
Publicado: 05/01/2012 02:22  Atualizado: 05/01/2012 02:22
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 Re: crónicas dos novos dias
o pior é que os anos nunca nos enchem as medidas. (acho que um ano passa depressa demais...)

Abraço meu.