<br />A intimidade da noite
Nada fala sôbre isso, porém
A voz repete e cresce a cada palavra :
" Mulher eis ai o TEU FILHO."
E é por nós que ÊLE tem
Sua voz humanamente ferida;
Por minha vida inseparável
De teu corpo adormecido,
Por nossa conversa
Repetida até o cansaço
De mêdo a encontrar-nos.
Uma vez te disse, que é muito fácil mentir
Quando se quer, que tôdas estas coisas
Sejam como nós, e a vida,
Que apenas em si tem importância;
Então não sabes, que um dia
Chegaria o filho, a pedir a carícia
Irenunciável, de tuas mãos,
De tuas mãos que esta noite
Se arrependem de haverem sido femininas
As vêzes aprendemos um evangelho deturpado
Nas pedras de cada aurora,
E a meia-noite, nós criamos
Um habitante em cada passo.
E não me negues, mulher, quando o filho
Chegue com gesto mais humano,
Que estas coisas cotidianas,
Então será minha alma
Um completo suburbio
De outra sexta-feira Santa.
Rui Garcia