Eu fui todos
E fui aquele
E o outro ainda;
Aquele outro que nunca fui,
Nem quis ser.
Eu acho que nunca
Quis ser mesmo nada;
Nem ter de inventar
Definições para o que sou!
Ou que não sou.
Porque eu não sei se fui.
Ou se cheguei a existir.
Eu fui português e Portugal
E algures dentro de mim
Um pouco estrangeiro também.
Eu senti as dores;
As minhas, as dos outros
E também as de Portugal
E do português do Portugal estrangeiro.
Mas nem os outros
Nem Portugal
Nem o estrangeiro que passou na rua
E me viu falar sozinho,
Sentiram as minhas dores.
As minhas dores senti-as só eu.
As minhas dores não foram nada
Senão somente minhas…
E porque foram as minhas dores
Senão somente minhas?
Eu hoje olhei o céu de noite
E vi a lua.
A lua é branca e glaciar
Mas os teus olhos
São azuis cor do mar.
Mas porque não posso
Eu ver os teus olhos
Como vejo a lua branca,
Uma vez;
De mês em mês?
Se os teus olhos
Fossem a lua lá do céu
E voltassem de mês em mês;
Então Portugal e os outros
E aqueles que não foram eu
Nem quiseram ser…
Sentiriam também comigo as minhas dores.
Porque se os teus olhos
Fizessem as vez da lua lá no céu
De noite estrelado
Todos iriam compreender
A angústia da espera.
De mês em mês…
Os teu olhos voltariam
De mês em mês;
Nem antes nem depois.
Foi esta a triste condição
Que nos calhou a nós dois.
De mês em mês.
Pena é ser eu como o sol
E como os outros e como aquele
E como Portugal nacional e estrangeiro
Que guardo dentro de mim.
Quando tu chegas
Já eu estou na despedida.
Eu fui um povo
E um estranho
E um estrangeiro em Portugal.
Eu confesso que não sei se existi…
Ou se existimos todos.
Só sei que naquele romance
Fui eu aquele que te olhou;
E que os teus olhos
Ou a lua lá no céu amou…
És tão inalcançável
Como a lua lá em cima no céu.
De mês em mês
E o teu olhar é outra vez meu…
Re: Se os teus olhos fossem a lua lá no céu…
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