Não sei se sou incompetente
Ou tentar pôr em versos a minha dor
Que é impossível.
Confesso que já sofri com Dorian Gray,
Já chorei os reveses de Cândido,
E sofri com Fausto e Margarida.
Aprendi que a literatura é farta de vida
E que eu, hoje, estou farto de ambos.
Também tive minha vida fáustica,
Vendi minha alma a Deus e ao Diabo,
Mas minha Margarida murchou:
Secaram-me as lágrimas.
Amei além do que podia,
E o que me restou?
Agonia, saudade, desespero.
Fiz tudo que não podia,
Atravessei todo tipo de nevoeiro,
Acreditei realmente que conseguiria dobrar o Cabo das Tormentas
Para transformá-lo em Boa Esperança...
Restaram-me apenas histórias e noites insones.
Restou-me desgosto com minha arte ruim.
Restaram-me gosto de vômito e vinho.
Restaram-me solidão e fantasmas.
Quero apenas um verso que alivie minha alma,
Uma expressão que afaste de mim essa ausência de deuses...
Uma imagem que clarifique meus sonhos
Como quando apaixono-me por tudo e por todos...
Preciso de imprecisão nas percepções,
Versos novos como vida após a morte,
Um novo calendário sem datas e dias,
Ter a mente límpida como um soneto ingênuo,
Sorrir pra mim mesmo, mesmo sozinho.