Sangra a tarde apunhalada pela mão do dia
Algo refrigerante faz o ocaso ser diferente
Morre a tarde e se inicia uma nova poesia
Logo que se recolhe Febo dos cabelos ardentes.
Do nada um véu denuncia a chegada da brisa
Que vem deslizando macia pelos arvoredos,
Orvalhando a rua, perolando os brinquedos
Como uma seiva que a alimenta e a alumia...
Numa rua, em um prédio, num apartamento
Uma semideusa um espetáculo se principia
Elevando aos Campos Elíseos o pensamento
De um homem quando a toalha se descortina...
Uma mulher exalando fragrâncias femininas
Serpenteia pela pelúcia veludosa do tapete,
Olhos gigantes, sensuais, de uma fera felina
No cio arranhando a textura alcalina da parede...
No vale virgem, no monte de Vênus de uma vagina,
Nas penugens maliciosas das abundantes nádegas
Um marinheiro se aventura por terras desconhecidas
Quando a luz bruxuleante e sonsa do quarto se apaga...
Aquece o quarto o perfume que adocica o ambiente
Pernas e braços entrecruzados imortalizam o momento
Dois corpos, duas almas afogueadas em sexo indecente
Liberando e libertando os mais safados pensamentos...
Morre o mundo todo neste instante.
Param-se os relógios e as ampulhetas.
Queda a noite como se estivesse bêbada...
Fadigadas duas almas extasiantes...
Apagam-se as estrelas antes acesas.
Nasce o dia diamantino...
Prelúdio de uma paz... Refrigerante!
Gyl Ferrys