hoje não tenho nada para te dizer
nunca tenho nada para guardar
para que te possa contar
para que possa conviver
sou esse monstro que come amoras
e se suja de sangue entre dentadas
sou dessa rua deserta sem demoras
que nas entranhas adormece sobre cantadas
ando perdido por este canal de loucos
que escrevem poemas como loucos
e pensam que todos os querem ler
não sabem nem sonham que nem quero saber
destes vagabundos da escrita que não tem nada para dar
que se aleijam com as horas
e se perdem com as mentiras montadas
numa caça de socos
de bestas e bêbados que olham para si
só para si e não me lêem
não me escrevem uma única palavra
que lhe posso dizer hoje?
hoje não tenho nada para lhes dizer
nada me guardam
nada me contam
para que possa conviver
na fome do meu amor e das horas
na solidão das palavras
inventadas – quero lá saber
se são plagiadas
se os mando morrer
tudo – para mim – são piadas
inofensivas e por morder.
hoje não tenho nada para te dizer