Confesso que passo os dias à janela, de facto.
Para quase tudo, contudo, creio numa explicação lógica.
Gosto de acompanhar, atentamente, à medida que o tempo passa, pleno na sua sabedoria porém displicente da minha observação por si, os cambiantes de luz a cada novo momento.
Preciso de contemplar os matizes que ele vai criando, imponderável, um toque de nuvem aqui, uma pincelada chuvosa ali, uns ocres na terra rachada e o azul ultramarino como base do céu profundo onde, de vez em quando, surge um brilho insuperável por causa daquela tinta estrelada, a que confere às coisas aparentemente inanimadas um toque mágico de luz.
Preciso de assistir ao instante em que da Lua escorra um escuro manto que protege quem pretenda esconder, atrás de alguma janela fechada, uma lágrima teimosa, solitária, desnecessária mas sentida.
Uma lágrima muito real e que serve apenas para lembrar que é Natal.
Incipit...