TARDE, NOITE DE NATAL
A tristeza branca
a derramar,
de novo, os tons
(tão bons…),
tristes e brancos,
irmanados,
irmanando,
num pôr de sóis
sagrados e únicos,
os contornos perdidos
que brotam do povo
esperançado….
crédulo, sob um arco-iris
de bondade branca
e triste.
Tudo é calmaria
nessa tarde de sol
que desce atrás
do mar de dezembro.
Ilusão fugáz,
de amor,
de paz,
comprimida em doze
meses de anseios
e dúvidas;
em eternos veios
de dores reprimidas.
Aqui, sentado,
parado e alheio,
com esse sol
a me chamar pro mar…
não consigo me afastar
dos sons
que me alcançam
no fundo da alma,
a alma triste
desse Natal que chegou,
trazendo um mundo
que busca outros mundos
sem conhecer-se a si próprio.
No ventre dilatado
de uma criança qualquer
está o espanto
do século dividido.
No pranto da mãe
que chora mais um anjo
está o amargo
das injustiças.
E o mundo busca
outros mundos
sem volver um só
olhar de piedade.
Que engenhosidade!
A lua a seus pés
sob a árvore enfeitada
de estrelas;
que são as gotas
rolando das faces
feias e cruas
que sem compreendê-las
não aplaudem,
não riem,
na mesmice de seus dias
iguais.
Hoje, é Natal,
é paz,
é bondade,
é dádiva,
mas, em sua tristeza
ignorante,
como poderão
participar
de nossa alegria,
de nossa vitória?
Debaixo de todas as águas
salgadas
desse mar,
fica o fim de uma história
enterrada e esquecida, e
é Natal!
Livre-pensadora, livre-sonhadora