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Sejam Bem Vindos ao Anfiteatro.
Devemos todos esta gentileza e espaço ao nosso eminente Director, o Professor Doutor Jorge Luís Casares Menard, a quem todos conhecem pelo seu lado erudito (quem não desfolhou, pelo menos, as suas mais de mil páginas – bem pesadas e reflectidas - sobre a Literatura do pós-Guerra?) e, os seus mais chegados, pelo seu lado humano, prestável e abnegado. Honra seja-lhe feita, portanto.
Hoje, abrindo esta nova vida para todos nós, resolvi fazer um convite à poeta Maria Verde, insistente, para que fosse ela a falar e não eu. Não lhe dei tema, contorno ou forma, apenas que seguisse a sua própria sugestão e que dirigisse algumas palavras a esta classe de jovens, que procuram conhecer com humildade alguma coisa sobre a experiência dos mais velhos.
Só posso agradecer-lhe ter aceite o desafio, honrando-me muito a mim, mas também a vocês, ao nosso novo Anfiteatro, com a sua presença.
E com isto, não sendo jovem como vós, serei hoje aluno e estarei sentado ao vosso lado.
Maria Verde, a palavra é tua.
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Olá,
O dom da argumentação pode ser comparado ao momento em que o santo baixa no orador e todo o dito consagra a coesão. Imaginemos então o momento que estamos diante de uma folha de papel procurando por palavras que mais facilmente surgiriam em um diálogo oral qualquer no nosso dia a dia. Não é tarefa fácil. Claro que me refiro a textos literários. E para o jovem que almeja a experimentação da escrita, não apenas como leitor ativo, mas como escritor, se faz necessário, ou pelo menos interessante, conhecer algumas das diversas necessidades que um texto literário pede para que se configure como tal.
Nesta aula falaremos então da hipotipose. Não confundamos com hipnose, já que de certa forma as duas coisas promovem um encantamento e porque não dizer, um aliciamento nocional. Rs
Segundo Durmassais, a hipotipose “ocorre, quando nas descrições, se pintam os fatos de que se fala como se o que se diz estivesse realmente diante dos olhos.” Ou seja, a hipotipose “pinta” as pessoas e os eventos no nosso imaginário. Sim! A narração ganha qualidades artísticas da pintura. Luz, sombra, cor, forma, volume, textura. Se a arte é uma gama de confluências, a hipotipose literária é a pintura que realça a narrativa. Vejamos um exemplo, Um fragmento do Conto “O vitral” de Osman Lins:
“Flutuavam raras nuvens brancas, as folhas das aglaias tinham um brilho fosco. [...] seguiram, soprou um vento brusco, uma janela se abriu, o sol flamejou nos vidros. Uma voz forte de mulher principiou a cantar, extinguiu-se, a música de um acordeão despontou indecisa, cresceu.”
Neste quadro pictórico o olhar capta de forma homogênea os traços representativos da ação e da descrição. A rica plasticidade fomenta as notas em cena e avulta a percepção dos leitores. Os movimentos narrativos e os pormenores descritivos coadunam integrando um mesmo contexto verbal. A narração está realçada pela hipotipose, pondo a cena quase aos nossos olhos. Hermelinda Ferreira diz que: “Diante da pintura de um objeto, é preciso determinar o seu significado, é preciso estabelecer a sua correspondência com um modelo, é preciso encontrar-lhe a legenda adequada, na qual a palavra corresponda à imagem, assim como o significante ao significado.”
Pensem nisso quando forem escrever. Ficamos por aqui.
Maria Verde
Gladys F.