Sempre que deslumbro uma noite límpida,
De firmamento pintado de estrelas cintilantes,
E a lua formosa prateando o mundo e as fantasias,
Ponho-me a sonhar os mesmos sonhos de menino.
Vejo-me sentado num barranco,
Da rua de barro que ia cortando o vale,
Defronte da modesta casa rodeada de goiabeiras,
Em meio às pastagens rústicas onde dormiam as vacas,
E eu fascinado pelo céu em côncavo e a lua soberana.
Sentado assim no barranco da rua,
Olhava a casa, onde vazava a luz das candeias,
Entre as frestas das tábuas que a cercava,
E os vãos da palha que a cobria.
E me deixava envolver pela noite serena,
Corria os olhos pelo mundo que a lua banhava,
Até que parava o olhar e fixava a imaginação,
Na alta e imponente colina que se fazia a oeste,
Donde sempre vinham as trovoadas e as ventanias.
Que mistérios existiam por detrás daquela colina,
Para onde a lua sempre corria a se esconder,
Deixando o mundo às escuras, a mercê das estrelas?
Que monstros habitariam do outro lado da colina,
Que sopravam vendavais que vergavam o bambuzal,
Que revolviam as nuvens e as faziam bradar ira,
Que invadiam meu coração em desespero de medo,
Nas quentes tardes e negras noites de verão?
E assim o menino cresceu e virei poeta,
Envolto pela poesia das noites de lua e estrelas,
Da visão do vale que o sol aquecia e a noite cobria,
E da colina gigante que engolia o sol todo final de tarde,
Que chamava e atraia a lua sempre em horas incertas,
Atrás de onde habitavam monstros que sopravam as trovoadas,
Para roubar o calor do verão e judiar do bambuzal.