O ter, possuir, bens materiais, ou a possibilidade de os adquirir, confere poder, sobretudo se e quando o ter se traduz em alguma forma de privilégio, ou vantagem relativamente a outrém. Se esse poder for usado no bom sentido, não há problema. (Em muitos casos, para usá-lo no bom sentido bastará abster-se de mau uso). Se for usado no mau sentido, torna-se causa e fonte de graves problemas.
Embora o cristianismo, na sua essência, apele ao melhor uso do ter e do possuir, tanto bens materiais como bens intangíveis, intelecto e talentos, e sejam as maiores virtudes aquelas que o realizam, sabemos que nem todos os homens praticam tal doutrina e que, quiçá a maioria, vive subjugada a esse poder. Os que não o detêm são vítimas, mas os que o detêm também se sentem vítimas da necessidade, ou da "idiotice" de o possuírem. Não me parece que, em geral, os não detentores e os detentores tenham uma visão diferente desse poder e, de acordo com a cultura vigente, parece-me que aspiram todos ao mesmo. Mas isto está errado e é mau. A lógica que impera aqui é uma espécie de ciclo vicioso da guerra. Esta dinâmica não é uma fatalidade e é necessário revertê-la, de forma que todos se sintam mais livres, os escandalosamente ricos, os demasiado ricos, os ricos e os aspirantes a ricos e os outros. Não é resignando-nos a um sistema profunda e miseravelmente inadequado aos interesses da humanidade e incrivelmente injusto, como o era, aliás, o sistema esclavagista, que as coisas vão melhorar, bem pelo contrário.