Pessoa me visitou...
Havia sim,
havia dito...
Dito não,
havia pensado!
(sem saber, tolo, que pensar é mais que dizer)
Sim, havia pensado!
Não, não apenas não conheço Pessoa...
Não conhecer é simples,
basta-me,
para tanto,
não tê-lo visto!
Não cria!
Não me era possível,
simples assim,
que tal gênio existira!
E segui impassível,
em pensamento,
e afirmando aos quatro ventos,
que Ele,
que Aquele Poeta,
jamais existira...
Eis então,
que,
sem mais,
nem menos,
abro a porta!
Não, não a da frente,
tampouco a dos fundos que,
cá entre nós,
jamais existiu...
Mas a de dentro,
sim,
a de dentro!
Sim,
aquela mesmo!
Que ainda sem chave,
tranca,
lacra,
encerra...
Sim,
que encerra...
Toda a multidão,
confusa e em polvorosa,
de sentimentos que nos guia!
Eis que ali,
logo ali,
está a figura...
Diz-me:
"Eis-me aqui,
ainda que amador,
(ama a dor),
poeta..."
"Duvidas ainda de mim?"
Calo-me,
sincera e solenemente!
Digo:
"Poeta... Caro Poeta...
Que fazes de fronte à porta?
À porta de que jamais,
em toda esta breve e longa vida,
jamais suspeitara?"
Ele pára,
pensa...
Puxa um cigarro!
Ora, Pessoa fumava?
Bom,
o meu...
O que me visitou,
sim,
sim...
Fumava!
Vi o rosto iluminar-se,
de repente,
ante a efêmera chama...
Seguiu-se um longo,
e pausado,
diga-se de passagem,
trago!
Soltou fumaça e palavras...
"Que sabes tu,
patético poeta,
de teus sentimentos?"
Calei-me,
nem sei como,
mais uma vez...
Tive um palpite,
que embora arriscado,
mostrou-se certo,
de que ele,
o Poeta,
diria mais...
E disse...
"Sabes tu,
por acaso,
mais de teu amor,
que ele de si próprio???"
Da segunda vez,
confesso,
não foi,
sequer preciso que pensasse...
Logo,
sem entrelinhas,
prosseguiu meu ilustríssimo visitante:
"Achas ainda,
que antes e depois de tudo,
encerras o que sentes,
sem nada dizer,
absoluta,
e definitivamente,
no que escreves?"
Tive medo!
Sim,
medo enorme e terrível!!!
De contradizê-lo...
De afastá-lo...
Calei-me...
E aguardei!
Qual explosão festiva,
fez-se iluminar,
mais uma vez,
(outras virão),
o rosto do Poeta,
ante o puxar urgente,
e calmo,
de sua boca,
meio que abraçando,
aconchegando,
carinhando,
o cigarro!!!
"Ora não sejas tolo!"
Disse-me,
penso,
em claro tom de advertência...
Escutei-o!!!
"Deixe-os,
teus sentimentos,
viverem por si!!!"
Poeta,
Poeta...
Ouça-me!
É urgente,
garanto,
que me ouças...
O Poeta,
naturalmente,
não ouviu...
E prosseguiu:
"Não sejas tolo,
perceba,
que as palavras,
sempre elas,
livres que são,
nos prendem,
acreditem,
como ninguém!"
Mas como?
Pensei...
E o fiz,
prudentemente desta vez,
calado!!!
"Não perguntes,
não indagues..."
Respondeu-me o Poeta,
calmo e tranquilo,
sem saber de meu espanto...
Prosseguiu o Poeta:
"Nada há de saber delas,
sempre delas,
das cousas,
mais que elas,
confie,
de si próprias!!!"
Comecei,
de novo e em vão,
a pensar...
Disse-me o Poeta:
"Não penses...
Viva!!!
Viva e nada mais!"
Segui,
por hoje,
ao fim e ao cabo,
seu conselho...
Não pensei...
E vivi...
Ilitch Kushkov
Indaituba 20 de Dezembro de 2.011 - 23:38h