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Tonico e prenda do Natal

 
Tonico e prenda do Natal

Era um rapaz meio arisco, trapalhão e claro que grossura era coisa, que não lhe faltava acompanhada com a sua falta de educação. Era filho de tendeiros, que percorriam as feiras em todas as cidades mais próximas, por isso ele ficava solto e livre como um passarinho.
Tonico era o único filho do casal Oliveira, eles, sempre o deixavam nas mãos da sua avó a Dona Salete, uma senhora de carnes fartas e rosto avermelhado pelo fígado se é que ela ainda o tinha.
Claro que Tonico era selvagem, sumia de manhã e só chegava à hora de regresso dos seus pais, o que ele andava a fazer nem a Dona Salete o sabiam só ele Deus e os seus amigos.
Dezembro era um mês de muito trabalho para seus pais, eles vendiam muito e aproveitavam todos os bocadinhos, não levavam o Tonico senão ele ainda lhes dava era mais trabalho e aflições. Na paróquia o padre Jeremias andava aflito, em arrecadar dinheiro para a festa do Natal, claro que a sua avó ajudava muito com uma generosa contribuição para pagar os seus pecados da bebida.
Língua mais afiada e maldosa não existia naquela aldeia, beata que só visto, mas para ver quem vai à igreja e como vai vestido, claro se souber de alguma novidade ela era o radio mais potente da aldeia, logo todos a saberiam.
Tonico andava lá para as bordas do rio, com uma cana de pesca mal arranjada, quis ir pescar peixe para o seu amigo padre Jeremias, com ele dizia que havia de arranjar bom dinheiro, bem se ele pescasse, seria mesmo uma boa ajuda. Padre Jeremias andava de porta em porta, dando um pouco de doce as mulheres da aldeia para que elas fizessem os seus melhores petiscos para a sua ceia do Natal, lá meloso ele era sim e dizem as más línguas na terra, neste caso a Dona Salete, que ele escorregou muitas vezes na calçada, ora se é verdade ou não eu não sei.
As enguias andavam era todas de férias, o Tonico e os amigos lá tentavam e nada, Tonico despiu a roupa e enfiou-se no rio e com um pau dizia que as ia matar a paulada, podem lá crer nisto. Batalhou por muitos minutos, mas logo se cansou, ainda colocou uma mão na enguia, mas ela escorregou-lhe e sumiu nas águas do rio.
Quem estava nas margens do rio não paravam de rir pela cena cômica e engraçada. Desolado, mal disposto, ele regressa a casa mais cedo, não abre o portão, salta o muro, sorrateiro, entra na casa molhado, abre a porta da sala e...
Grita como ele grita, sua avó estava bem no meio da sala caída, despida, transpirada e o padre Jeremias, de meias até aos joelhos, sem ceroulas, nu da cinta para baixo , estava em cima da sua avó, os dois pararam aflitos, sem saber o que fazer, nem o que falar.
O padre vestiu-se às pressas a sua túnica, deixando as ceroulas na sala e correu porta fora, avó veste aquelas setes saias, levanta e diz que o que ele viu foi apenas, o padre a curar a sua artrose na anca.
Ora Tonico era sabichão, malandro e muito esperto, logo ele fica apensar num modo de se vingar do padre e da sua querida avó,fez de conta que nada passou, guardou as ceroulas do padre bem escondidas no lugar das arrumações e espera pelo dito dia.
O Natal estava à porta, Tonico já não sai muito de casa, estava prestável e muito educado por sinal, até seus pais estavam admirados com tamanho milagre, Tonico ajudou nas festas da paróquia, na preparação da ceia e claro com aquele ar de bonzinho ele pediu que o deixassem fazer um discurso.
Ora como o padre tinha o rabo preso consentiu, sua avó achou que tinha mistério no ar, observou, mas nada descobriu. Tonico saiu para a festa com um embrulho, grosso de papel de embrulhar o bacalhau, claro que lhe perguntaram para era o embrulho, ele respondeu rindo que eram coisas dele.
A ceia correu na normalidade, entre os olhares furtivos do padre e da dona Salete, eles sentiam um alivio por nada de ruim acontecer, eles conheciam o Tonico, ele aprontava e pesado.
Pouco antes das onze horas já a musica estava no ar, a banda a tocar, Tonico pede que coloquem uma musica de fundo e calma e diz que vai discursar.
Todos pararam de dançar, regressam para a sua mesa e ficam ali, já meios bebidos, cansados e olhando para o relógio.
Pega no microfone, sorrindo, fazendo cara de Anjo, ele começa:

Querido padre

È com enorme prazer que vos ofereço este meu embrulho, é simples, pobre, mas certamente lhe irá fazer jeito pelo frio que se faz sentir.
Tirei umas ceroulas novas aos meus pais, daquelas que eles levam para vender na feira, também trouxe as velhas que deixou no chão da sala da minha avó quando o padre estava meio nu, curando as atrozes da minha avó. Olhe senhor padre que foi um milagre, ela nunca mais coxeou, nem se queixou. Às vezes a escuto a chorar pelo padre à noite no quarto, dizendo:
- Ai que dor, que falta me faz o padre Jeremias.
Mas de manha ela já não se queixa mais e claro é milagre mesmo, pois o senhor estava nu em cima dela, ela também nua por conta disso eu trouxe as ceroulas novas, como presente e agradecimento, pois a minha avó nunca foi tão minha amiga, faz todas as minhas vontades.
Obrigado e Bom Natal para o senhor e para todos aqui presentes.


Entre pasmos e risos, o padre saiu a correr da paróquia, deixou as ceroulas pelo caminho e claro que o Tonico ficou de castigo, sem prendas até ao ano seguinte... Mas que foi engraçado foi até a mãe e o pai não esconderam as gargalhadas no quarto, rindo das escapadelas dos velhotes!








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Betimartins
 
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