Queria saber o que te encerra
Em estranhos labirintos e castelos
Feitos de tantos sonhos singelos,
De pseudos-conceitos e quimeras.
Queria saber o que mais te agrada.
O que seria para ti motivo de alegria:
Se o amanhecer rosado do novo dia
Ou uma filosofia pegajosa e barata?
Queria saber o que mais te abomina,
Aquilo que te fere deveras e te mata:
Se a falta de bordados nas entrelinhas
Ou o excesso de hipocrisia na fala?
Vejo-te como uma grega e antiga estátua:
Nariz refinado, dedos imortais, cinza e fria.
Às vezes vejo-te como uma porcelana rara,
Uma jarra bem trabalhada e bem esculpida.
Porém pobre de-marré-de-si e vazia;
Oca, sem água ou outro tipo de líquido.
Talvez seja esse o motivo.
Eu não sei. Eu não sei.
Talvez seja um quadro de Dorian Grey,
Um espelho de maga malvada da Disney
Ou quem sabe um rio refletindo Narciso.
Tomara que um dia te nasça florido.
Que amanheça sorrindo e chamando
Os bichos de amigos
E de amor.
Que o caminho, mesmo comprido,
Seja um imenso pássaro sonhador
Que te leve pelo espaço infinito
Para além da linha do Equador
(Que lá esteja teu querido,
O teu verdadeiro amor)
Onde moram as plantas gigantes
E sol se esparrama pelos terrenos amarelos,
Onde são mais bonitas as montanhas e manhãs
As borboletas mais assanhadas e mais gostosas
As romãs.
Espero que possa quebrantar esses elos,
Essas espessas correntes que te prendem
Em castelos
De estranhas geometrias e de pesadas rochas.
Faço votos que em teu colo acendam as tochas,
Em lenhos, exalando oásis no teu triste deserto
Para que teu espírito opaco receba refrigério.
Que o Cupido fleche as fibras do teu peito
Acendendo luzes no quinto ciclo do teu inferno.
Removendo os limos e as lápides do teu leito
Submerso no mais fétido e obscuro cemitério.
Gyl Ferrys