Arde a tarde em rubras tristuras
Algo faz ser róseo o horizonte
Morre o deus-sol atrás do monte
Uma mão faz ser a noite escura.
Acende as estrelas uma outra mão...
Numa casa de fachadas fechadas
Ouvem-se passos pelas escadas
E o ranger das dobradiças do portão.
Num quarto repousa uma Cinderela
Sonhando com o amor da sua vida.
Ainda não sabemos quem é ela
Nem qual sua canção preferida.
Estranho é que ela fica a espera
Daquele que seria o príncipe encantado;
Vive cheia de sonhos, fantasias, quimeras,
Num mundo distante, fantástico e mágico.
Estranho são as tristes seqüelas
Que aportam naquele lúgubre patrimônio
Que bate num sofrimento medonho
Em casa sem arcos, sem portas e janelas.
Espero que um dia acorde, Cinderela...
Que saia desse quarto que lhe serve de jaula
Que os ventos façam em ti temporadas calmas
Que sua casa fique arejada com portas e janelas.
Espero que um dia seja a maior dos vagamundos...
Aliás, espero que um dia seja a maior dos universos.
Por isso hoje estou te decantando nestes versos
Com lágrimas nos olhos e com suspiros profundos.
Voe andorinha que o céu te pertence
E a ninguém mais!
Vá veloz deslizando pela atmosfera
Alimentando suas fugazes quimeras
Com os seus olhos frios e sensuais!
Aporte em águas serenas e tranqüilas
Esperando que o amor da sua vida
Venha montando num níveo cavalo!...
Voe! Quem acredita sempre vence!
Voe, andorinha, que o seu céu te pertence...
Somente a ti... A ninguém mais!
Gyl Ferrys