Os pombos da Praça XV
Não se parecem com pombos,
Não se parecem co’as aves,
Co’os próprios da sua espécie.
Os pombos da Praça XV
Se parecem mais co’as gentes
Quem vão e vêm pela Praça.
Ou quiçá sejam as gentes
Que com eles se pareçam,
Já que também pela Praça
Vão e vêm seguindo rotas
Como as aves migratórias.
Pois quem será mais antigo:
O homem enfadado da Praça,
Ou a ave cansada de céu?
Não sei! Pombo, gente, pombo
Que vão e vêm pela Praça
Se imiscuem, se confundem
A tal ponto que não notam
Um e outro nesta labuta
Diária por alimento
Nas filas, vias e dutos
Por onde passam e ficam
Às vezes, homem e pombo
Aves, gentes e indigentes,
Quietos, e lado a lado,
Protegendo-se da chuva,
Debaixo do viaduto,
Que rasga a Praça concreto.
O pombo, o homem, a praça
E os mendigos esfaimados,
Debaixo do viaduto,
Cruzam-me sempre o trajeto.