Crónicas : 

O meu regresso ao reino da lusalite

 
Olá, já tinhão saudadinhas minhãs nã tinhão, pois é estive na estranja a tirar um curso intensivo de português, a alentejanice inicial foi só para os assustar, eu sei o quanto era difícil entender a minha prosa, por isso segui os conselhos do meu Manéli e fui a Lisboa tirar um curso de português, é certo que durou pouco tempo, mas resultou agora o meu Maneli fica todo embasbacado cada vez que abro a boca, coitado fica a olhar para mim com os olhinhos a brilhar, até me dá dó.
Mudando de assunto, ando muito preocupada a minha comadre como sabem tem a mania que é poeta, e como também se recordam ela aqui há uns anos levou-me para uma espécie de confraria dos poetas. Tudo gente fina, as senhoras tão bem falantes e os cavalheiros uma maravilha, sempre a mandar piropos cada vez que eu publicava alguma coisinha. Ora com esta coisa do curso intensivo estive uns tempos afastada do reino da fantasia, Nem queiram saber como encontrei aquilo quando regressei, andava tudo num alvoroço, as comadres em tempos tão amigas agora pareciam dois gatos assanhados, às unhadas umas às outras, os compadres, esses desgraçados, andam em fanicos nas mãos das comadres, há meia dúzia deles que lá vão dizendo de sua graça, mas elas caem-lhes todas em cima que os coitadinhos ficam sem pio.
Para dar cabo do resto o grémio tem uma nova administração, parece que a anterior caiu de podre, não sei bem, nem me atrevo a perguntar, mas está tudo baralhado, de tanto meterem os pés pelas mãos ouvi dizer por portas e travessas que os administradores se vão candidatar a uma vaga que abriu para contorcionista do reino, mas também me disseram por PM que os candidatos são mais que as mães, que afinal não é só a administração que mete água, tem alguns poetas que são verdadeiros peixes sapos, de tanto chafurdar na água poluída do condomínio, entre eles está a minha comadre, que à conta disso arranjou uma laringite crónica.
Mas vocês nem lhes passa pela cabeça o que eles estão a cogitar, querem porque querem cortar o pio aos poetas, mas se acham que me dão a volta assim sem mais nem menos estão bem enganadinhos, já tenho um plano, até tenho medo de falar dele porque há inveja que perdura no reino, algum ainda corre a tirar-me a ideia. Cheguem-se cá que eu conto, mas baixinho que mais ninguém pode ouvir, e se a coisa sair daqui, já sei que foram vocês que me del~étarum. Estou tão nervosa que até estou gaga
Ora como é sabido eu moro num arranha-céus com cento e cinquenta inquilinos, aqui bem no meio do montado, eu nem a vizinha da frente conhecia quanto mais os outros, mas tratei de me dar a conhecer num instante, estive quarenta e oito horas sem me deitar passei as noites e os dias a fazer bolachinhas de água e sal, meti tudo num cestinho e andei de andar em andar a dar-me a conhecer, ali ofereci uma bolachinha, mais além uma roscazinha, até estrelinhas ofereci, mas resultou agora conheço todos os cento e cinquenta vizinhos mais as respectivas famílias, de alguns até o periquito conheço e fiz um pacto com todos eles, sempre que eu for bloqueada no reino da fantasia por prevaricar contra a administração, crio um perfil sobressalente numa das casas dos meus vizinhos, é que não pode ser na minha, também me disseram que o endereço do IP ou o raio que o parta não pode ser o mesmo, mas eu estou-me borrifando para essa medida, com cento e cinquenta ips todos diferentes vão ver o trabalho que lhes vai dar até chegarem à minha pessoa, em troca só tenho que passar umas noites acordada a fazer bolachinhas.
Ora digam lá se não sou bestial, a minha comadre essa é uma desenxabida que não tem tacto para nada, com aquela mania que é poeta, os neurónios nem já servem para pensar, e coitadinha anda cheia de azia com esta coisa das medidas no reino da fantasia. Mas se vocês acham que me dá ouvidos, qual quê, até me deixou de falar e chamou-me trambiqueira, pois é ela vai ver quem é a trambiqueira quando lhe cortarem o pio.
Agora fiquem com deus que eu tenho cem quilos de farinha para amassar.
Beijinhos, beijinhos desta Zulmira que os adorãaOpen in new window



Transeunte na miragem

 
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poetamaldito
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 09/12/2011 13:31  Atualizado: 09/12/2011 13:31
 Re: O meu regresso ao reino da lusalite
TUDO MARAVILHA NESSE AGRADÁVEL TEXTO, BELO

MARTISNS

Enviado por Tópico
Conceição Bernardino
Publicado: 09/12/2011 13:34  Atualizado: 09/12/2011 13:34
Usuário desde: 22/08/2009
Localidade: Porto
Mensagens: 3357
 Re: O meu regresso ao reino da lusalite
olá Antónia,

cuidado com a farinha...é argamassa aquela que é uma graça?

olha que a Zulmira anda de olho em ti, rs

beijinho