Contaram-me quando criança que não existia vida após a mort;
Contaram-me quando criança que amor só de mãe;
Contaram-me quando criança que família só existe uma;
Contaram-me quando criança que meu destino já estava escrito;
Contaram-me quando criança que não é preciso entender, só sentir;
Contaram-me quando criança que questionar é feio e soa como desrespeito.
Contaram-me muitas coisas quando criança, mas esqueceram de me contar que existe a mentira.
Se existe vida após a morte ninguém pode afirmar até morrer.
Existem amores que são mais fortes do que simples laços de sangue.
Existe amigo mais chegado do que irmão e tenho famílias espalhadas por ai.
Meu destino desenho dia após dia com minhas atitudes, verdades e sonhos que trabalho para que se tornem reais.
Eu posso sim sentir o que entendo, mas jamais posso apenas sentir sem entender algo, isso seria ser uma parte que não existe em mim.
Aquele que se ofende com um questionamento carrega verdades que nem ele mesmo acredita ou sabe como defender.
Enquanto eu acreditei em tudo que me disseram quando criança, vaguei dias e dias sem razão, vazios e esfomeada.
Quando eu coloquei a mão no meu entendimento pude perceber que usava uma parcela muito pequena do que posso ser e tomei posse do meu eu.
Hoje sigo, passos tranqüilos na certeza de que sei muito mais de mim do que muitas pessoas pensam saber de si.
Encontro dores, choro e lamentações pelo caminho. Permito-me tudo isso, mas sem deixar escapar a essência da verdade que sou.
Caminhando dias sim e dias não, sigo com a clareza necessária de um infinito que somente com minhas mãos posso desvendar e viver.
Posso temer, mas jamais me acovardar diante de quem sou.
Peça-me qualquer coisa, diga-me qualquer coisa, sonhe-me qualquer sonho, mas não me peça para colocar nas mãos de qualquer pessoa minha identidade.
Sem medo de interpretações fico palavras inteiras, de verdades únicas que somente meu intimo precisa entender.