Ó pai desnaturado
Estás nas catacumbas trancado
Ou será enfastiado
Roga por nós pecadores
Poetas e maus actores
Acode, afasta este fardo
Mas apressa-te
Que o caldo está entornado
Eras um rapaz simpático
De porte altaneiro
Mas as frangas do capoeiro
Fizeram-te cabelos brancos
Agora por entre solavancos
Esvai-se a farinha do moinho
Ai pai, cada vez mais sozinho
Acode, faz lá essa fineza
Deixa-te de moleza
A poesia salta na rua
Na rua da amargura
Pai, olha a triste figura
Deste poeta estouvado
Não sabe ficar calado
Arre porra grita ele
Calado, antes capado
Ó pai afasta o pecado
Da casa da minha vizinha
Coitadinha, coitadinha
O castigo lhe foi imposto
Ó pai para meu desgosto
Riram as frangas aos saltos
E agora poetas nefastos
Só falam em injustiça
E tu aí com preguiça
Enquanto o circo pega fogo
Ó pai se queres que rogue eu rogo
Sai aí do teu cantinho
Traz a paz num cestinho
A este antro de maledicência
Porque o poeta sem paciência
Pega nas rimas na eito
E pai tu sabes não tem jeito
Nada o faz calar
Justiça é a sua bitola
Um peso e uma medida
Não é preciso ir à escola
Para ser gente na vida.
Poetamaldito
Transeunte na miragem
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