Frases e Pensamentos : 

A Última Tempestade

 
Adeus, adeus aos sonhos!
Melhor viver de realidade que de esperanças!
Como seria bom se todo canto de sereia, toda paz que já senti, pudessem realmente ter sido meus, como é minha a desesperança e a azia! Como são meus os sonhos que não vivi! Como são minhas as ilhas onde sou Deus, onde sou todo grão de mar, toda gota de areia!
Ah, quem me dera ter uma felicidade tão minha quanto meu olhar!
Sim, o olhar! Porque os olhos podem se perder pelas ruas sujas e iluminadas pela dor, mas o olhar, mas a alma, nunca irá embora!
Mesmo que passemos anos no inferno, estações no desespero, o olhar, esse nunca será de outro que não meu!
O olhar é a poesia escrita por nossa vida quando nascemos, que levamos por todos os caminhos por onde nos achamos e perdemos, e que depois da morte continua a nos dizer tudo que somos, tudo que a vida é: poucos os sabem ler, é preciso morrer e viver pela poesia para entender.
Estará sempre aqui mesmo ausente: em fotos ele se desbota, em pinturas faz-se presente, mas é só frente a frente que existe: como existem as rosas, os lírios e as cartas que perdemos pela vida, mas que deixaram em nosso palato o sal do vinho!
Perdi a vida e a alma, vendi meu tempo, beijei os lábios do ar, enfrentei tempestades e goles de loucura, mas ainda tenho meu olhar! Ainda tenho meu Céu, minhas estrelas e um pouco de inspiração: e dessa inspiração crio minha vida, tirando-a do esboço dos meus dias para transformá-la em estética imperfeita, arte de artista sem fama, sem gana, que escreve muito mais por desencanto que por alegria.
Atravesso às portas fechadas, não consigo entrar nas mais abertas, e pergunto-me: por que tanto tempo para nada?
Quantos, quantos poemas ainda escreverei de dentro desta prisão, desta liberdade fajuta que transforma minha pele em madeira e meus pensamentos em térmites?!
Serei o único a perceber que estes cupins destroem as nuvens aos poucos, restando-nos apenas pó, cinzas e chuvas ácidas? Quando teremos chuvas de papel, de poesia?
Serei o único a ver que entregaram nossas Odisséias às traças?
Ah, o último verso, onde está?!
De que são feitos os sonhos? De poesia!
E se a poesia é a geometria do mundo, o que dizer de tanta inspiração, por que viver de olhos abertos se os sentidos permanecem ausentes, se todo toque de mãos transubstanciou-se em vinho, pão e em um nada absoluto?
Melhor ter reticências que palavras...

 
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ferlumbras
 
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Enviado por Tópico
Migueljaco
Publicado: 02/12/2011 15:47  Atualizado: 02/12/2011 15:47
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 Re: A Última Tempestade
Boa tarde Caro poeta seu personagem faz vastas consideração aos percalços que perfazem os seus desenganos, meus parabens pelo seu contundente poema, MJ.