Em Guimarães, foste nascido
Deste luz à iniciação
Fundaste um estado, a Criação
e por tua mãe, foste ofendido
Na Cruz de Cristo foste fundido
Ergueste a espada, com a destra mão
e geraste um reino, uma nação
e pelos teus homens foste seguido
Em Zamora, puseste a cruz
da Santa Sé, leste o missal
a tua coroa emana a luz
que irradia o verso fundamental
removeste-me em tempos o capuz
Afonso! Fundaste Portugal!
Depois de ti, novos reis seguiram
O Quinto Império nasceu
Ergueste o véu, quebraste o breu
Novos povos, em ti surgiram
E novos heróis se inspirariam
no teu escudo, no Apogeu
do berço do Império que sou eu
que escreve o Verso, que eles não queriam
Afonso, foste o homem que me germinaste
oito séculos depois de ti
Ergueste a espada, ergueste a haste
com a qual o Demo eu combati
rompeste o hímen, com Deus casaste
Criaste o Império onde nasci!
Cunhaste o sacro magistério
em Além-Tejo, és soberano
grafas o Verso, do poeta insano
que em ti revê o sangue etéreo
Entre nós, está um Império
Tu és o Rei, eu sou mundano
Tu és o sacro, eu sou profano
que habitamos o reino hespério
Fundei a Letra, fundiste a espada
que esta nação com ferro se fundeou
Ergueste o escudo, soltei a amarra
que a nobre pena libertou
Emprenhaste-me a lírica a garra
que o meu génio em ti visou
Com quais sentidos eu te revejo?
Sou teu servo, ó Conquistador
Por ti passei além da dor
enquanto cruzavas Além-Tejo
Não tiveste pudor, ou pejo
Cingiste-te ao teu Senhor
A Deus, ao Papa, ao nobre Amor
para fundar um reino egrégio
Em Ourique sais vencedor
Em São Mamede triunfaste
Colheste do Clero, o seu Louvor
Em Zamora, consagraste
1143, sei-o de cor
Foste tu que me criaste.
Nasce de novo, porque és bem-vindo
Ó Afonso, que foste o primeiro
que plantaste o mar cimeiro
e que fundaste um país lindo
Foste ungido com o escudo trino
que desta nação, foi pioneiro
Homem da paz, ou só guerreiro
Afonso, és o meu amo que deslindo
Escrevo o sangue que derramaste
na senda pela guerra triunfal
oiço os berros, de quem mataste
com a esquerda mão, deste o sinal
Escrevo no reino que germinaste
ó Afonso Primeiro de Portugal!
João Pimentel Ferreira
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Domine, scribens me libero