Poemas : 

Flora

 
 
Flora, tantos anos já lá vão
Desde que morri em teus braços
Na mão e nos teus dedos
Que se desligaram lentamente...

Sangrei até ao fim
À espera de ti
E estiveste sempre perto de mim.
Observaste de perto o momento
Interminável da minha morte
Como se a sorte fosse o teu dia
Mais longo e mais ardente,
A acontecer no presente mais
Intenso da tua vida.

Esse teu bom senso suicida
Deixou-me de olhos marcados
Na tua silhueta que se desfez
Enquanto o sangue que me fez viver
Me fazia morrer na sua ausência.
A linha atenuou-se
Até gritar no choro da paisagem
Negra da escuridão eterna.

Deixaste-me ir.
Depois, fui eu, na ordem natural
De quem vai para obedecer
Às ordens naturais, ditas por ti,
Com a mão no meu peito,
Que lá esteve até deixar de bater.

Deixa-me morrer!
Não nos teus braços,
Mas a um metro de mim,
Para desvaneceres antes de nós!

 
Autor
AntonioCarvalho
 
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