De novo a luz.
Não sei porque ainda existe. Não sei porque me ilumina e abençoa
Se não cá estás para perguntar: sentes o seu calor? Vês o seu brilho?
Vejo. Sinto.
Vejo a chuva: a chuva que escorrega sonhos abaixo,
Que banha o que dói e purifica a alma.
Sinto o calor da voz. E das castanhas.
E de risos e sorrisos fundidos com bem-querer em despreocupada ignorância.
Sinto frio nos pés e lembro-me de ti.
A ternura também se fatiga e o sono é teimoso quando quer.
Azuis brotam-me dos olhos e procuram no rosto a navegação mais segura.
Refugio-me no silêncio das palavras mais altas.
Mas tenho vertigens. Às vezes caio.
Com a chave do meu corpo abro a porta do universo mais imenso.
Entro nele.
Consinto a doçura e tenho dó da matéria dos sonhos. E das estrelas.
Faço por invocar o afago, a claridade e a sinfonia do íntimo.
Trespassa-me agora os olhos. A luz.
Faz amor com a minha pele. A chuva.
Estava tão perto de voar que me esqueci que o verão acabou:
Uma súbita alegria, aguda e parva, desce e coroa a terra de água.
Mal sabe Deus que me arde o coração.
Rui Gomes