Há alguma coisa maior que nós mesmos
que é a fidelidade a nós mesmos.
Flor espantosa que vive das águas cáusticas
e das terras apodrecidas da prodigiosa extensão humana.
É a sua santidade que eu quero fazer nascer
destas palavras de ritmo obscuro
E neste momento mesmo é talvez a sua inocência
que eu violento com os meus dedos mártires que a desejariam sangrando.
Ela nasce desse instante supremo
em que o homem que viu a verdade
sente que a sua simplicidade trágica nada poderá contra ele
Ele que é como o país que vê a guerra
no pássaro de arribação que se pousou
da grande viagem sobre o seu pavilhão estendido.
Não existe talvez nada mais belo que a miséria
que habita essa alma que nós mostramos
como um pavilhão estendido ao pássaro peregrino
E talvez nada mais horrível que essa guerra
que se vê nascer subitamente das entranhas da nossa miséria
A fidelidade é como o amor da miséria pelo eterno viajante sereno
É como um homem que à força de contemplar um rio
é por sua vez comtemplado por ele.
Se é que há um lugar de Deus em cada criatura
nada será fidelidade senão a fidelidade à falta de Deus neste lugar
Aos sentimentos e nunca à verdade
porque a verdade é o símbolo do absoluto e o absoluto é a morte do homem.
Ai de mim! talvez eu devesse morrer
porque eu digo as palavras da fé com gestos de inteligência.
Fidelidade, lírio, anjo, mar de pureza!
Vinicius de Moraes.
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