Poemas : 

ESTUPRO DA SONÂNBULA(de "Vozes do Aquém")

 
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A bela que levanta à noite
é aquela que o caçador fareja
e empurra para a janela.

Não há senão o céu sem estrelas,
após a veneziana,
que felizmente emperra
e evita o pior.

Mas os grilos gritantes
fazem tanto barulho,
ajudados pelos morcegos e pelas cigarras,
que a tranca finalmente cai
e o orvalho faz seu abominável serviço
de preparar a carne para o banquete.

O pelo antecede o apelo,
intercedendo na rota
entre a mão e o gesto.

Fica a trança,
refém da tiara,
sustentando contra tudo
a virtude.

Enrosca na grade a última conta do terço,
feita de vidro e não de cristal,
arrebenta, porém, esparramando
reflexos pelo jardim.

A Besta assusta com a luz
e corre.

De longe lança o seu feitiço,
poderosa flecha,
roxa como convém ao momento,
acertando em cheio
o peito desfeito,
que racha,
para acolher o beijo
do passante distraído,
agora personagem.

Do ato será parido o mantra,
para ser usado na sétima porta,
mesmo que doa.

 
Autor
NelsondPaula
 
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