Vi-te e reconheci-te no mesmo instante… apesar da ansiedade que me inundava a razão, sorri!
Tu também me procuravas e achei engraçado observar-te a fazê-lo sem ainda me veres, quando me encontras-te a ansiedade voltou e uma insegurança assombrou o momento, o meu momento, porque tu esbanjavas segurança e até talvez uma superioridade inconsciente, acreditei eu.
O nosso primeiro cumprimento foi de quem já se conhecia há décadas, mas o embaraço involuntário denunciou pela primeira vez o encontro dos nossos olhos e dos nossos sorrisos.
Lá longe o mar fazia-se ouvir, e já juntos deslocamo-nos de forma muito lenta em seu encontro. Confesso que me lembro de sentir algum receio e nervosismo durante aquele pequeno trajecto até o avistarmos, imenso e algo transtornado. Acho que te observei várias vezes pelo canto dos meus olhos e tua postura era a mesma: seguro, confiante, qualquer coisa de misterioso e extremamente calmo, o que me deixava a mim num misto de sentimentos!
O que falamos parecia estranho: já nos conhecíamos realmente ou não?!
O areal era imenso, tão extenso que eram imperceptíveis os limites; podia fechar os olhos e imaginar-me num pequeno deserto. Estava vento, muito vento mas o sol parecia convidativo para abancarmos por ali na companhia daquela água que não tinha fim. Só mais tarde perceberíamos que o vento derrotara o sol provocando uma tarde não tão agradável como ansiava-mos.
As palavras foram surgindo e as possíveis inseguranças iam perdendo o sentido. Os sorrisos presenteavam os diálogos e muito naturalmente aquele momento já era partilhado de igual modo por nós dois.
A confiança, o conhecimento das pessoas que éramos, os valores que partilhávamos, os gostos, as vozes...tudo já eram dados sentidos, conhecidos, respeitados e assumidamente de agrado para ambos. O que nos faltava?! O que procurávamos?! Empatia, a concordância da física?!...
O tempo parecia inimigo, controlava-nos de um modo que não merecíamos. Sentíamos frio, o vento não parava e não permita ao sol aquecer-nos. Será que foi esta a desculpa, para conhecer as tuas mãos?! As tuas mãos! Adorei-as, pele clara, fortes mas ao mesmo tempo meigas. Por instantes, deliciei-me a explorá-las através das minhas, os meus dedos percorriam cada pedaço dos teus… Queria tentar aquecê-las como se o teu frio parasse no momento em que o conseguisse.
A nossa cumplicidade natural foi-se assumindo de forma muito agradável, definitivamente conhecia-te há algum tempo atrás. Observava-te sem tu reparares, dava por mim a reparar em pormenores e a não conseguir esconder nada do que sentia. Não havia receios, inseguranças nem vergonha de mim, nem de ti, éramos como a água, transparentes um para o outro!
A tarde passava e o frio não nos deixava. Decidimos sair dali. O sol ainda nos espreitava no céu e queríamos aproveitar o que de melhor nos podia oferecer. Lá longe, outro areal este bem mais recatado, juntos sentamo-nos no melhor sítio sem sentir o vento. Agora de mãos dadas e bem mais confortáveis contemplamos o céu e a bola amarela-laranja que descia lentamente. Falamos sobre o ambiente quase perfeito que nos rodeava… as rochas, o mar, o céu, nós, tudo era mesmo quase perfeito! Não tiramos os olhos do sol, a descida parecia rápida, mais rápida do que realmente queríamos.
Estávamos conscientemente juntos, os nossos corpos respiravam ao mesmo ritmo, as minhas mãos não largavam as tuas e o momento chegou… o nosso olhar não deixou o céu durante aquele instante... o pôr-do-sol, apesar de célere e pouco nítido, por causa das nuvens que o acompanhavam foi o mais bonito, mágico e perfeito que poderíamos ter assistido naquela tarde tão nossa!
Naquele instante pensei se deveria beijar-te… não o fiz, não o tentei, mas apesar disso acredito que a mesma vontade te invadiu!
Não aconteceu… ali…
… pura ilusão ou realidade pura...
19 de Março de 2010
Léne Carreira
Léne Carreira