Nem por Decreto
Ainda que houvesse,
em terras tupiniquins,
aquele tal que,
até 1.988,
carregava força de lei...
Nem mesmo por ele!
Nem por ordem de Buda, Alá ou Deus!!!
[embora, convenhamos, sejam
sempre todos o mesmo,
e mudem de nome, mais ou menos,
qual mandioca é aipim,
e vice-versa]
Não, não e não!
Podes espernear,
chacoalhar, gritar,
xingar e me humilhar!!!
Podes dar com a cabeça na parede!
Dar chilique...
Chamar a mãe, o pai, o filho...
Podes ainda apelar,
chamar o Espírito Santo e tudo!!!
Não, não e não!
Não te faças de besta,
mulher...
É preciso uma vida mais comum?
Claro que sim!
É preciso uma presença mais frequente?
Ófi Córsss!
É preciso ter um pouquinho,
[só um pouquinho]
daquilo tudo que sobra nos idiotas!!!
Aquela coisa diária, sim,
o café na cama,
o cigarro,
o jornal...
As brigas!
Ah, o bem que elas fazem...
E nós?
Que sequer temos direito à elas?
É preciso ter tudo isso,
não nego,
assumo,
concordo,
faço coro...
Sim, sim...
É preciso!
Fazes-me um favor?
Veja que antes,
muito antes,
de termos tudo isso,
é preciso entender...
Que, como diria o Mestre,
"inútil dormir que
a dor não passa!!!"
E essa dor,
essa coisa gostosa,
quente e húmida,
feito chuva de verão!
Essa coisa, Linda...
Dessa coisa não se corre!
Não se evita...
Acordaste com uma vontade,
de casar...
De casar?
Ai que burra...
Dá zero pra ela!!!
Não entendes?
Não vês?
Somos apenas um,
desde sempre!!!
Não é preciso união alguma...
Ela já existe!
E é perpétua, eterna, obrigatória!
Pare de tomar cachaça estragada,
e entenda,
que não há nada que possamos fazer...
Entenda que para que se cases,
seria preciso,
antes,
que eu te desse algo que não darei...
O Divórcio!
Ilitch Kushkov
11/11/11 - 10:45h
Indaiatuba - SP
Escrito em resposta ao poema abaixo:
Meio assim.
Hoje eu acordei assim...
sei lá...
com vontade de casar.
É, hoje acordei assim
mais sentimental que nunca
mais mansa que gata castrada
mais calma, menos depravada
mais entregue, menos desconfiada
Assim...
com vontade de amar
mais serena, menos afobada
mais quieta, menos eletrizada
mais fêmea domesticada
Acordei assim...
menos aflita, mais sossegada
menos intransigente, mais ponderada
mais mulherzinha delicada
Enfim, acordei assim...
feito moça recalcada
feito esposa devotada
mulher resignada
Acordei assim...
querendo casar
Cruzes!
Vou dormir de novo
que amanhã há de passar!
Priscylla Ramalho
11 de novembro de 2011
O poema foi escrito em resposta ao poema de Priscylla Ramalho intitulado "Meio assim."
O poema "Nem por Decreto" funciona sem o "Meio assim."! Penso, contudo, que fiz bem em colocar os dois "grudados" pois o primeiro dá muito mais sentido ao segundo!