A minha alma não se cansa
Nem afronta meu corpo tal realidade
Prossigo sem ver mudança
No amor que ultrapassou a eternidade
Conservo-me vivo e forte,
Ainda que me estreite de leve a morte.
Sou de tal modo viçoso
Que trago no peito tamanha glória
Troféu de um vitorioso
A escrever com sangue a sua própria história,
Entrego-a aos desvalidos
Para que sejam por ela remidos.
Que o amor, ao amor se renda
Sem razão, sem reservas, sem mistério,
Que seja por fim só uma prenda:
Conservar-se inaudito, sempre etéreo,
E vencido todo mal,
Sejam todos amantes, amantes afinal.
Estabeleço assim meu destino
Contrariando roteiro de autor falaz
A conservar-me homem-menino
Amante da vida, amante da paz
Que todos digam amém
Os deuses e os diabos também.