Leio o Capital em Castelhano
Os Lusíadas, ouso ler em Inglês
E ainda leio Dante em Francês
lendo Voltaire, em Italiano
Leio o sacro e o profano
Cervantes, leio em Chinês
Leio em russo a história de Fez
Em Hindi, leio a vida de Ivan, o tirano
Aprendi a ler Kant em Grego
enquanto lia Homero em Alemão
Escrevo o que leio, com a destra mão
e leio a Bíblia do meu degredo
O Corão leio em Latim sem medo
Em menino, li somente João
Leio prosa com o coração
E os versos estrebucho, como credo!
Li Confúcio em Português
Dostoievski li em Sueco
Cada verso onde peco
redimo-o com outro em Inglês
Leio Virgílio em Francês
e os meus versos são como um eco
que cantam quando a caneta eu espeto
no papel, como quem lhe tira os três
Leio em Inglês a nobre história de França
Louvre, Concórdia e Napoleão
Conquistador, Messias ou só ladrão
Regozijo-me em Paris como uma criança
Usarei a pena, a caneta como uma lança
para redigir o verso messiânico e são
com a Verdade, a Luxúria e a Razão
para atacar quem ao mundo, nega a Esperança
E de Paris, escrevo versos sem pudor
enquanto observo a minha amada
Dou-lhe tudo e não lhe nego nada
e com ela construo o templo do Amor
É a minha musa, que me sara a dor
Amamo-nos eternamente, p’la madrugada
Foi-me entregue por Deus, ou só achada?
É o meu arco-íris, que amo de cor
Paris, cidade luxuriante dos amantes
Da boémia, da Poesia e da Luxúria
Dos poetas que tangem a penúria
e que a encontram pelas rotas dos errantes
Venho do Sul, da terra dos navegantes
do Fado negro e da lamúria
onde um seio nu é uma injúria
e vizinhos das terras de Cervantes
Paris, bela, sombria e luminosa
Com o Sena fresco e suave, que a percorre
E as águas frias que dele escorre
incutem-me a escrever, a estrofe mais formosa
Vagueio com a minha deusa, a mais airosa
que comigo dança, vaga e pelos campos corre
Aquela que um dia comigo morre
Brava, terna, doce, bela e até medrosa!
João Pimentel Ferreira
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Domine, scribens me libero