Espreguiço-me, ainda ensonada, após uma noite,
perdida na solidão de um mundo alheio.
Sinto a falta da tua presença que nunca tive.
Sinto a carência do teu contacto que nunca provei.
Sinto a perda do que nunca me pertenceu.
Sinto a mágoa de não te tocar.
Sinto o pranto de não te beijar.
Sinto a tristeza da tua distância.
Sinto o desânimo do que não comecei.
Conheço-te!
Desses encontros, num tempo e espaço desencontrados.
Tenho saudades!
Murmuro, na voz sufocada pela dor da tua ausência.
Tenho saudades do amor não vivido.
Tenho saudades da paixão não consumada.
Tenho saudades do tempo que será.
Tenho saudades do que nunca foi.
Tenho saudades do desejo do teu corpo inatingível.
Tenho saudades de mim, abandonada no teu abraço.
Tenho saudades de nós, num tempo inventado pelos dois.
Imagino-te!
Traço os contornos do teu rosto no vazio dos meus enganos.
Sonho o instante do nosso encontro.
Sonho os beijos que trocaremos.
Sonho as carícias em que nos afogaremos.
Sonho a entrega de nossos corpos ávidos.
Sonho o abismo do prazer na dádiva ansiada.
Sonho a realidade de uma ilusão que criámos.
Sonho o que seremos num futuro apenas nosso.
Espero-te!
És a realidade mais real, da existência que vivo.
Só tu sabes quem és!
Só tu sabes que eu existo!
Julieta Ferreira