Crónicas : 

Meu pai

 
Foi num domingo que prometia praia e cumpriu-se uma chuva miúda e intermitente, antecipamos nossa volta para São Paulo, na despedida meu pai como era costume, ficou encostado, ao portão de madeira da sua casa nos acenando um adeus.Nenhum de nós pressentiu que seria o ultimo, nunca mais o vi com vida, por temperamento não gostava de datas que se construíram comercialmente, como dia das mães, pais, etc, e isto transmitiu a mim, por isto pouco se lhe dá ser lembrado no dia dos pais dos avós ou o que seja, creio que gostaria de ser lembrado na sua alegria, na sua gargalhada cascateante, no seu humor as vezes caustico, no seu amor pelos livros.Para saber desta ascendência, não é necessário, procurar os genes na cadeia espiralada do nosso DNA, basta olhar a cor dos meus cabelos, o sorriso que arremedo mas jamais será tão lindo, e algumas idiossincrasias que nos fazem um, e saberão que ele está em mim, assim como eu estarei sempre nele, nos perpetuaremos em seus netos, e bisnetos, como sempre o foi e o será até o final dos tempos. E eu o verei sempre sorrindo, apoiando-se no portão de madeira e saberei que após o nosso carro desaparecer no final da rua, ele pegará a bengala pendurada no braço, que apoiará seus passos incertos cansados, fechara a porta da casa e nos deixara com sua ausência.Saudades do meu pai.Carlos Said

 
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Carlos Said
 
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