Não foi preciso muito para perceber que se passava algo. Bastou, num relance, olhar para a cara do indivíduo do lado. Os cantos da boca subidos e os dentes quase à vista, indiciavam o riso já a meio caminho entre o sorriso e a gargalhada.
O tipo olhava, de forma fixa, para o meio da rua onde, uma mulher tentava desesperadamente arrancar um sapato da calçada. O salto (finíssimo) ficara cravado entre os paralelipípedos de granito quando ela atravessava, num passo rápido e travado pela saia justa, para o outro lado. Ficara descalça.
Desolada e irritada, tentava arrancar o sapato às pedras antes que algum carro lhe passasse por cima.
As buzinadelas, as expressões de esforço e frustração da mulher, o polícia que apitava para ela sair dali, tudo aquilo fazia aquela gente rir e dava-lhes uma história para acompanhar o café do almoço.
De repente explode a gargalhada solta do povaréu!
Ela levantara-se e enquanto bradava os braços de forma pouco distinta, num firme protesto pela falta de auxílio da autoridade e do resto, o 13, com toda a sua pujança, passou com o duplo rodado em cima do sapato.
Impotente, numa pose meio desequilibrada, a mulher calou-se e estarreceu e caiu sentada no bordo do passeio.
O resto, entre sorrisos, seguiu com a sua vidinha.
Valdevinoxis
A boa convivência não é uma questão de tolerância.