Sou um ser humano
aprendi a falhar
sou um ser falho
não aprendi ser humano
também sei brigar
discutir com quem mais amo
sinto inveja dos outros
xingo Deus e as fadas
fico com raiva do Tempo
perco a amizade por mim
choro sozinho
rio de velhas piadas antigas
ouço vozes desconhecidas
que me chamam
– meus amores que se foram?
tenho tantas lembranças
de coisas que nunca fiz
que confundo saudade
com ser feliz
o que seria da vida sem tantos arrependimentos?
o que seriam dos anos sem tanta dor?
não que sejam necessárias as feridas
não que sejam imperativas as mágoas
mas é que sem tantas lágrimas
não haveríamos de nos descobrir tão crianças
sem tanta dor
não haveria como rir de tudo
não haveria graça de saber
que ao menos uma vez
existíamos tão contentes
sabendo que o que nos fez sofrer
foi tão passageiro
por mais que tenha sido insuportável
foi imprescindível, necessário...
estranha paz depois de tantas lágrimas
quem nunca sentiu-se assim?
satisfação por ter morrido tantas vezes
quem nunca teve?
Tenho medo de ser mais um
como todos tem
quero todavia
transformar versos de amor
em poesia da vida toda
não sei dizer o que sinto
só explico e falo o que não sei
vivendo o que sou
é impossível fugir de si
chorar e rir por qualquer coisa
é sinal de fogo
dentro d’alma de qualquer um
não dá pra apagar
o que há de Prometeu
na nossa história e natureza