Poemas : 

POEMA PORTUGUÊS

 
Ao Xavier Zarco, poeta e meu amigo

vejo-te num café qualquer de coimbra
a conversar com pascoaes e o'neill
mas só as águas do mondego
as paredes do mosteiro de santa clara
e inês de castro envolta em seu xaile
podem escutar o que conversam
eu cá tão longe tento apenas adivinhar
falam do amor e da morte
das viúvas e dos órfãos
falam também de um relógio imaginário
que ao tempo nunca obedeceu

penso que o mundo parou de girar de repente
e as notícias que os jornais tinham prontas
ficaram dois séculos mais velhas
a verdade pá é que estamos todos mortos
e distraídos não percebemos e continuamos aqui
à mercê do vinho e da poesia
objectos de palavras inúteis que mendigamos
como côdeas de pão amanhecido

à tua frente o'neill está a rir-se
como que a debochar do silêncio que cruza
o arco da almedina
à semelhança de uma pomba atordoada
que parece voar sem rumo
uma mulher que não fazia parte do poema surge
aproxima-se de pascoaes e o beija
"Com os lábios que a terra já desfez." (*)


(*)Verso do poema Idílio, de Teixeira Pascoaes

_________
júlio


Júlio Saraiva

 
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Julio Saraiva
 
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Enviado por Tópico
HelenDeRose
Publicado: 01/11/2011 20:13  Atualizado: 01/11/2011 20:14
Usuário desde: 06/08/2009
Localidade: Sorocaba - SP - Brasil
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 Re: POEMA PORTUGUÊS
Gostei das imagens do poema e de como o tempo quase não muda nada, talvez seja eu e meu jeito de ver as palavras. Fico feliz com sua presença, Julio.

Ótimo dia!

Helen.