Descobri-te na imperfeição.
Assim como já me descobriram.
Mas, dói mais quando somos nós a olhar.
Somos duplamente traídos.
Pelo olhar e pelo olhado.
E eu que te via perfeição!
Como somos imperfeitos!
O olhar e o olhado.
Julgamos a perfeição quando sabemos, bem lá no fundo, que isso não existe.
Porque a imperfeição reclama todos os lugares.
Como a amora, ali, perfeita, madura e deliciosa a cobiçar-nos o olhar.
E no entanto goza da imperfeição. Que existe no momento de a colhermos. Picamo-nos.
Mas quando a saboreamos, esquecemos tudo e dizemos que não há nada mais perfeito.
Nada mais imperfeito.
Diremos logo: a amora devia ser maior.
Provavelmente, somos nós que fazemos a imperfeição. Na busca da perfeição.
Porque as coisas já existiam muito antes do pensamento.
E eu nasci das coisas