Revolta-me ser um ser
Um ser pequeno e medonho
Ser um ser
Náufrago num mar qualquer
Revolta-me ser um ser
Um ser racional, racionalizando tudo
Quando o outro, o irracional resolve irromper
E até me dizer:
- Tu que me trais e me deixas louco e me trazes dor
Deixa-me num lugar qualquer
Onde os corvos também têm voz
Revolta-me rebolar nas palavras todas
Ser só uma voz que fala de todos os seres que rasgam os céus
(As escritas, as inscritas, as malditas, as paridas, as nascidas num pomar qualquer)
Alienados são todos os frutos que saciam a fome de todos os corvos
Esses loucos varridos dos céus, excomungados por um deus menor
Deusa sou eu em todos os quadrantes do meu universo
Este universo que me tem, enquanto Deus não me sabe
Ele não me conhece, porque povoam os céus, todos os corvos
Enquanto não se projectam em queda livre
Para se ajoelharem no chão
Essa fome negra que os conduz ao ventre de um deus qualquer
Deus não sabe que os voos dos corvos semeiam prantos
E deixam caídas no chão, as sementes para o último dos banquetes
Que venha então para o banquete final…
Deusa sou eu!
Maria Al-Mar
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