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Lembro-me tão bem

 
Lembro-me tão bem…
Inaugurava o mês de Novembro. --- O dia iniciava com o céu plúmbeo… Tenazmente cinzento… Conduzindo uma brisa fresca, veiculando um aroma a begónias e crisântemos… Um nardo a terra húmida ressuscitava no ar…
Surgias com o teu passo tímido e nervoso. --- Esboçavas um sorriso inquieto e inseguro… as maçãs do rosto delineavam ruborizadas. --- Os olhos? Há! Os olhos transportavam um brilho de uma incansável alegria…
Parados. --- Emudecidos… olhando-nos alienados de tudo á nossa volta, testemunhámos todo o nosso agradável percurso, como se estivesse gravado ao indelével nos nossos corações…
Presenciei que te arrepiaste. --- Encolheste-te ligeiramente… aconchegaste o casaco e colocaste as mãos nos bolsos.
Conduzias a voz embargada pela emoção…
Determinas falar, mas, da tua garganta apenas escapa um sussurro. --- Sussurro esse que se confunde com o murmúrio da brisa outonal…
Não compreendi o que disseste. --- Mas, pelo movimento dos lábios, foi como se tivesse ouvido em profunda sonância, a voz metálica de um altifalante de uma estação ferroviária…
Eu perdoo-te…
Lembro-me tão bem…
O céu plúmbeo… o dia cinzento… a aragem fria… tudo isso desapareceu… tudo isso se esfumou, como que contagiados com minha alegria… o Sol brilhou como se fosse Agosto, que aqueceu meu coração e deu luz á minha vida
Abraçamo-nos efusivamente e autenticámos tranquilamente, pacificamente um prazer á muito ausente…


Luis Paulo

 
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