Membro de honra
Usuário desde: 10/08/2010
Localidade: Brasil
Mensagens: 7283
|
Re: A MODERNA ESCRITA. para o Azke
Olá, Azke, tudo bem?
Bem, começemos pelo fato, óbvio, incontestável de que este escrito é redigido buscando-se intenções poéticas, o que necessariamente suscitará interpretações e interpretações. Sendo o próprio poema um discurso lúdico, plurissignificativo, só ele, em si, já é uma minha interpretação.
Quanto à crítica isolada ao que é novo em favor do já existente, como você coloca aqui e da forma como pretendi construir no poema, na minha intenção criadora, não há. Admito sim que pode haver na sua, como ainda outras formas de interpretações para mais terceiros.
O meu ponto de partida no texto é uma "certa aversão" à "exigência do novo", à obrigatoriedade "apenas do novo", sendo que, nem essa postura é absoluta dentro do poema. O grau de persuasão é baixo, beira à insinuação, algo bem característico do discurso poético. Então, criticar a "ditadura do novo", para mim, e muito diferente de criticar o novo, para defender o clássico, o tradicional, ou "velho", digamos assim.
Pois assim mesmo coloco: afinal de contas, o que é "o novo"? Eis aqui um termo com um alto teor de relatividade. Se falarmos de textos de Shakespeare (que sei que você tanto gosta e muitas vezes os usa em epígrafe) para quem não os conhece, definitivamente se está falando a este de algo novo, libertário até, por exemplo. Haveria algum pecado não redimível à condição deste leitor, de Shakespeare e seus textos serem factualmente inéditos e, devido a isso, maravilhosos para ele? Penso que não.
Porque é dessa mesma forma que aprendemos a andar e isso sim é novo, depois vamos a aprender a escrever e ler, e temos o primeiro beijo, a primeira transa, atos absolutamente comuns e milenares e absolutamente novos do ponto de vista individual. Por que, assim também não possa ser com as artes, em especial com a poesia, nosso tema de debate? É justo que experimentemos o que já foi, sem isso ser tachado de retroação, ou estagnação ou preguiça, ou seja lá mais qual termo depreciativo ao fato de fazermos algo que outro já fez, mas nós não!
Jamais defenderia o velho, jamais. Porque o velho é sempre o que está morto e enterrado porque conhecido e incorporado. Defendo, sim, o direito de se poder escrever algo sem se preocupar se está inovando ou revolucionando algo, mas pelo simples prazer da experimentação pessoal. Prazer e necessidade.
Acontece que muitas vezes existe essa "pressão pelo novo". Eu a sinto, sempre. Ela é justa, deve acontecer, porque me (nos) movimenta, mas não se a deve levar mais a sério do que a seriedade que ela, em si, merece.
Bem, poderia escrever muito sobre isso, mas acho que por aqui basta, pois acho que me fiz explicar. Sim, sou também totalmente a favor de toda e qualquer evolução. Evoluir também pode significar incorporar o que já há, deglutir, mastigar, digerir e depois, só depois, criar algo realmente novo, com o extrato do passado. Isso é tentar o novo, sem nos tornarmos escravos do inédito.
Penso que os comentários que escrevi para o Zé Silveira e para o Carlos Teixeira Luís possam reforçar e esclarecer o meu ponto de vista. Se não leu e se interessar, aí estão.
Muito obrigado pela oportunidade de debate, Azke, porque quando feito com respeito, como você o fez comigo, só nos engrandece. Saiba que você é um cara que eu admiro muito.
Abraço, meu amigo. Gê
|