essa doença chamada meu gosto
que me faz escolher tanta bobagem
ainda vai me matar de desilusão
felicidade inalcançável é nossa meta
serei humano algum dia
ou o gosto do sangue na boca
é meu último traço de humanidade?
faz tanto tempo que escrevi esse poema
que já não concordo com verso algum
sou meu maior crítico
meus clichês são meu Juízo Final
só consigo um pouco de paz
com meus vícios
respiro fordismo
sou constante industrialização
cansa-me a espera
não sei ficar parado
faço tudo e sinto que nunca vivi
ao menos a poesia é um testamento
que escrevo pra minh’alma cadente
aqui posso desentender cada palavra
o alvo é o analfabetismo
alguns plantam filhos
outros trepam em árvores
imito Bandeira
e fujo
da conclusão da estrofe
estrofes não precisam de conclusão
nem perorar nada
só canto o que me transfigura
não idealizo Nostalgia
não posso viver a Idade d’Ouro
não vivo o passado
não vivo o futuro
sou dores do parto
qual a diferença entre ganhar e perder
quando se tem a constante sensação
de jogar dados com Deus?
desisto de poesia por agora
queria pôr fogo em Roma
pôr fogo no Éden
pôr fogo no Inferno
mas só falo isso bem baixinho
para que não me ouçam
há algo melhor a fazer além de cantar jingles?
ao menos somos capazes de rir
sem vontade
não sabemos interpretar nosso rosto no espelho
imaginem-se perdidos na rua
sem lua no céu
frio
lama
enjoo
bêbados
apenas crianças
poesia crônica, conclusão: ainda existem os sentimentos
estranho sabor de sonho na língua
é gosto de beijo na boca de alguém que odeio
em um futuro perfeito próximo
o petróleo do mundo será o amor
nem lembro que te escrevi