Eu que o teu barco esperava
E ao longe o via chegando
No rosto inquieto mostrava
Um olhar a sorrir chorando.
Seguindo no movimento
Da vaga lenta e avara
Pendurei por um momento
Sorrisos na minha cara.
Mas as ondas se enrolaram
Em teu corpo nessa dança
E num segundo te sopraram
A mil léguas da esperança.
Com tantas águas de pranto
O mar se encheu e tombou
Em rochas dando quebranto
Meu peito todo inundou.
E o sorriso se encharcou
No meu rosto desbotado.
Na língua se me enrolou
Caiu-se em chão desmaiado
As ondas que te levaram
Deixaram meus olhos cegos
Duas pedras se tornaram
Fixas no mar como pregos.
E estas mãos que te acenavam
Se endureceram com o vento
Fugiram da cor que tinham
Esqueceram seu movimento.