Hoje pela tarde
- uma tarde de finados como a de todos os anos,
Chuvosa e inútil -
Quando desperdiçava meu tempo
Relendo velhos escritos, textos inúteis e
Poesias tão antigas quanto minha infância
Senti-me um pouco mais infeliz
Ao perceber que um dia terei que escolher
Entre minha poesia e minha felicidade
Isto porque notei que minhas palavras
Surgem e brotam
Apenas nos momentos mais tristes...
O motivo de minha angústia é saber
que sou uma sonhadora,
Que vivo os dias e as vidas
Buscando a felicidade
-ainda que não exista-
E então descobrir,
Com um sobressalto,
Que estou buscando uma forma
De matar a minha já medíocre poesia,
Buscando o veneno para minhas palavras...
Mas que chegue esse dia!
Eu as velarei com muito respeito
E guardarei em meu coração
Todo o bem que me fizeram
E me despedirei com a dor
Que sente uma mãe, se, ao toque do destino,
Vê-se obrigada a enterrar seu único filho...